A vice-presidência é tratada com descaso nos Estados Unidos. No Brasil é diferente. Desde 1954, os vice-presidentes brasileiros já assumiram a presidência quatro vezes, por diferentes motivos: um golpe militar, uma renúncia, uma morte e um impeachment. O número é quase o mesmo de presidentes eleitos no mesmo período. Ao todo, foram cinco.
O cargo está em evidência novamente nesta campanha eleitoral, pois a candidata que lidera as pesquisas, Dilma Rousseff, do PT, tem um histórico de problemas de saúde. Ela passou boa parte de 2009 se tratando de um câncer linfático. Tanto seu vice, quanto o de seu principal opositor, José Serra, do PSDB, são motivo de polêmica. Em outras condições, os candidatos talvez preferissem outros companheiros de chapa.
Serra originalmente propôs o nome de Álvaro Dias, um senador de seu partido. Mas os Democratas, um dos partidos da coligação, ameaçaram retirar seu apoio a menos que sua escolha, Indio da Costa, fosse apontado como vice. Temendo perder a larga cota televisiva de propaganda política dos Democratas, o PSDB recuou.
Indio da Costa tem apenas 39 anos e foi relator da nova lei da Ficha Limpa, que proíbe que políticos que tenham sido afastados por crimes de corrupção retornem a seus cargos. Mas em pouco tempo, Indio criou uma situação embaraçosa, ao afirmar que o PT tinha ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e com o narcotráfico. O presidente do PT ameaçou processá-lo e Serra desmentiu os comentários envolvendo o tráfico de drogas.
A coligação do governo também tem seus problemas. Seu vice, Michel Temer, também pertence a outro partido, o PMDB – uma grande reunião de chefes políticos locais, alguns deles marcados por escândalos. E assim como Indio da Costa, Temer parece não contar com a confiança de sua companheira de chapa. O presidente Lula, que não pode concorrer, mas se mantém influente, chegou a pedir ao partido que escolhesse três possíveis vices para a chapa de Dilma, numa tentativa de ofuscar Temer. Os grupos do setor dos negócios estão apreensivos com as tendências esquerdistas de Dilma, e preferiam o presidente do banco Central, Henrique Meirelles como vice da candidata.
Analisando a situação, Norman Gall, diretor do Instituto Fernand Braudel, uma usina de idéias de São Paulo, resumiu as preocupações de boa parte do povo brasileiro em uma frase; “É um desastre a caminho”.
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