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domingo, 26 de junho de 2011

INJUSTIÇA COM O LAZER

"Apregoa-se, com garbo e excelência togada, a cessão da Praça Governador Portella para a construção de um novo Fórum. Triste e lamentável. Não a construção de um novo prédio para abrigar as atividades forenses. Lamentável é a falta de originalidade de nossos governantes. Querem usurpar um espaço de lazer de nossa população e implantar ali um espigão burocrático/jurídico de ferro e cimento, em pleno bairro residencial. Tudo em nome de melhor atendimento da Justiça. Nada original. Por que não desapropriam parte da antiga SUDAMTEX para fazer média com o Poder Judiciário Estadual, possuidor, segundo se sabe, de um fundo milionário, graças às custas cobradas nos processos ali correntes? Um fundo tão potente que já socorreu o próprio Executivo Estadual, para cumprir determinada obrigação. Se não quiserem, não puderem ou não tiverem coragem, que parte daquela área seja adjudicada, uma vez que a empresa, segundo especulações, deve milhões de reais a inúmeros órgãos públicos. Mas não se pensa no rombo ao erário, cometido por industriais inescrupulosos. Só se pensa na bajulação. Vem o Executivo Municipal, com aval unânime do Legislativo, anunciar a obra do século, tirando do povo teresopolitano uma das poucas áreas de lazer que nos restam.

A falta de originalidade é antiga, em nossa curta história sem memória. A Escola Isabel Rita da Veiga foi construída em parte da Praça Poeta Olegário Mariano, no Parque do Imbuí, em desrespeito a um dos grandes literatos de nosso país, considerado o Príncipe dos Poetas Brasileiros, que ali residiu e sempre nos prestigiou com sua presença.

A falta de ideias fermenta em nossas autoridades. Os moradores do Jardim Salaco e da Granja Florestal foram surrupiados em sua praça, para a construção da Escola Estado de Israel. Tudo em nome do oportunismo. Nada em nome do lazer.

A Praça José Augusto Vieira foi depredada para a implantação da Escola Sakura, em homenagem à colônia japonesa, com o intuito de ser uma escola/praça, em interação total com a comunidade. Hoje, a escola virou uma fortaleza, e a praça reduziu-se a um terço do seu espaço inicial. E a memória de José Augusto Vieira, principal responsável pela ligação ferroviária entre Teresópolis e o Rio de Janeiro, foi, literalmente, de serra abaixo.

Adolpho Bloch, morador e admirador de nossa cidade, quis dar-nos um presente: uma escola com o nome de sua mãe. Qual foi a solução encontrada por nossas sempre solenes (ou solertes?) autoridades? Doou-se uma parte da Praça Nilo Peçanha, um acinte à memória do grande estadista fluminense que chegou à Presidência da República, e, mais uma vez, um desrespeito à nossa população, carente cada vez mais de espaços de lazer. O projeto de Oscar Niemeyer é excelente, mas o local é inadequado, porque mais uma praça foi amputada.

Nos anos de 1980, os moradores da Barra do Imbuí, depois de décadas de espera, receberam um presente: a Praça Maria Corina. Na Administração passada (2004/2008), a praça teve um pedaço retirado para a implantação de um ponto de táxi, em uma constatação óbvia da falta de criatividade de nossos governantes. Ponto de táxi deve ser instalado em vias públicas e não em praças públicas. A memória de mais uma ilustre família de nosso município foi vilipendiada. Dona Maria Corina Turl, professora e enfermeira que deu a vida pela cidade e pelo bairro, teve sua história ignorada, o que é comum em nossa desmemoriada cidade.

Desde os anos de 1970, a Feirinha do Alto faz sucesso. Só que os moradores do Alto e suas redondezas perderam mais uma área de lazer. Um espaço sempre lindo e bucólico, a Praça Higino da Silveira, homenagem a um importante empresário e político do passado, é “cercada” de sexta a domingo e, durante a semana, convive com tralhas e muretas de tijolos que abrigam os medidores de energia elétrica. Isto é regressão. Nunca será progresso. Nunca será turismo verdadeiro.

A Câmara Municipal, na legislatura de 2005/2008, fugiu às regras do gabarito então vigente e autorizou, em caráter excepcional, a construção de um prédio de onze andares onde hoje se localiza o Fórum. Por que não dar andamento a esse projeto? O Fórum atual (Juiz Ivo Werneck), quando da sua construção, já absorveu grande parte da Praça Três de Outubro, dando continuidade à ação de nossas autoridades sem-memória. Por que o projeto elaborado por uma Administração anterior do Tribunal de Justiça não pode sofrer adaptações e ser concretizado? Seria uma disputa de vaidades togadas?

Agora, a aberração é ainda maior. Extingue-se uma área de lazer e enxota-se a memória do Governador Francisco Portella, que concedeu a emancipação política de nosso Município.

Sou admirador e servidor do Poder Judiciário. Mas não posso aceitar que, em nome deste Poder, as autoridades tirem da população os poucos espaços que lhe sobraram."

(Helio Delgado, 64 anos, é Analista Judiciário Federal)

Matéria publicada no Jornal O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS, edição de 11/06/2011.